Há algum tempo, eu tinha uma aluna que fazia aula umas duas vezes por semana. Ela era uma executiva que trabalhava muito, tinha filho pequeno, e ainda achava tempo para fazer a lição de inglês toda semana além das três horas de aula. Às vezes a lição era ler um texto, às vezes ouvir um áudio, ou simplesmente fazer exercícios de revisão. Mas na hora de falar sobre a lição durante a aula ela geralmente “engasgava”. Sabe como é? Apesar de você estar usando coisa que já viu na aula várias vezes, não lembra de uma palavra aqui, outra ali, confunde o tempo verbal, hesita, pára uns segundos antes de se decidir sobre a pronúncia, tudo isso antes de completar cinco sentenças. Nós resolvemos fazer uma experiência. Eu selecionei um arquivo de áudio compatível com o nível de inglês dela, que ela deveria ouvir todo dia, repetidamente, por pelo menos 20 minutos (o áudio durava uns quatro minutos). Eu disse a ela para ouvir algumas vezes primeiro, e só depois ler a transcrição para esclarecer eventuais dúvidas, e então continuar ouvindo normalmente.
Ela cumpriu o combinado – colocou o áudio no CD player do carro e todo dia, voltando do trabalho, ia ouvindo. Quando nos reunimos uma semana depois, foi incrível ver como ela conseguiu falar sobre a estória contada no áudio, usando estruturas e vocabulário corretamente com uma desenvoltura para falar que nunca tinha tido antes.
Depois dela, houve outros alunos que fizeram a mesma coisa com resultados semelhantes – não é nenhum segredo: prática focada, repetitiva e constante de listening dá ao seu cérebro o input que ele precisa para aos poucos absorver uma nova língua. E nada mais normal que, de repente, você se pegue falando coisas que nem sabia que sabia, com uma habilidade que nem sabia que tinha. Ken Beare fala disso nesta entrevista; e Stephen Krashen, um dos maiores linguistas da atualidade, defende o uso de narrow input – em outras palavras, a prática repetitiva com áudio/texto de interesse e no nível de entendimento do aluno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário